Comércio da fronteira sofre com efeitos da crise brasileira

(Foto: coximagora.com.br)

Depois de amargar queda de 60% no movimento de turistas brasileiros e “chegar ao fundo do poço” no mês de abril, sendo obrigado a demitir dois mil trabalhadores por causa da alta do dólar e agravamento da crise econômica brasileira, comércio da cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, vizinha a Ponta Porã, sofre com os efeitos da crise, com lojas fechadas e 90% dos funcionários dispensados ainda em situação de desemprego neste fim de semestre.

De acordo com o presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Pedro Juan Caballero, Pedro Bondiman, os mais afetados foram sobretudo os negócios pequenos — a estimativa é que 100 estabelecimentos tenham fechado as portas nesse período, acuados pela instabilidade do cenário econômico. “Foram dois mil postos de trabalho fechados, o impacto foi muito grande, mas o importante é que o dólar já se estabilizou e não há mais o mesmo ritmo de demissões”, garantiu.

Quem ficou no mercado tem diminuído custos e feito descontos, tratando de manter as portas abertas, na expectativa de que as vendas possam melhorar a partir das férias de julho. Outra estratégia que já está sendo montada pelo segmento é a tradicional campanha Black Friday, que promete descontos de 10% a até 50% em produtos variados — neste ano, a promoção acontecerá entre os dias 4 e 7 de setembro.

Mesmo assim, Bondiman reconhece que neste ano o setor vai demorar para se recuperar da retração econômica. “No comércio, as vendas de agosto e setembro não são muito alentadoras e nós dependemos muito da economia brasileira. Talvez haja uma melhora só depois de outubro”, avalia. Já do lado brasileiro da fronteira, mesmo com a economia em recessão, a expectativa de agravamento da crise não se confirmou e o ritmo da atividade comercial foi mantido, inclusive com geração de empregos e instalação de novos empreendimentos, segundo o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ponta Porã, Eduardo Gaúna.
“Caminhamos junto (Brasil e Paraguai), o dinheiro que circula lá circula aqui e é natural que ocorra uma recessão, mas ainda não sendo totalmente sentida aqui. As empresas pequenas, outras que estão menos estruturadas, essas estão sendo mais afetadas, mas Ponta Porã não é mais só preço. O dólar não é uma coisa que depende de nós, mas capacitamos equipes, entramos com produtos de ponta, promoções; essa é uma fronteira diferente, que não depende mais 100% do turismo de compra para sobreviver. Uma amostra é que recebemos uma unidade da rede Studio Z (de calçados e acessórios), inaugurada há 20 dias; outra das Lojas Americanas, redes de farmácias também estão se instalando; são cerca de 200 empregos criados na cidade”, destacou.

Lojas francas O dirigente da Associação Comercial de Ponta Porã destacou ainda que o segmento “vive a expectativa de instalação das lojas francas (free shops), após o dia 30 de junho”. Se for mantido cronograma anunciado pelo Ministério da Fazenda no ano passado, o regime aduaneiro especial desses estabelecimentos comerciais — que poderão vender mercadoria nacional ou estrangeira isenta de impostos de importação à pessoa em viagem terrestre internacional — deverá entrar em operação a partir de julho.

“Dependemos apenas da regulamentação da Receita Federal. Já sabemos quem vai vender, como vai funcionar; falta a última etapa desse processo que é a regulamentação”, destacou Gaúna. Já a redução da cota de importação por via terrestre sem a incidência do imposto de importação de US$ 300 para US$ 150 por pessoa — medida que deve entrar em vigor no próximo mês e motivou em março deste ano série de protestos e o fechamento do comércio de três cidades paraguaias que fazem divisa com o Brasil — , os representantes das associações dos dois lados da fronteira mantêm o mesmo discurso: acreditam que mais uma vez o governo federal deve manter tudo como está e ampliar as discussões em grupo de trabalho do Mercosul.

A instalação das lojas francas, prevista pela Lei 12.732, de 9 de dezembro de 2012, foi regulamentada pela Portaria do Ministério da Fazenda 307, de 21 de julho do ano passado, que também instituiu a redução da cota para gastos no exterior, aplicada nas fronteiras terrestres do País e com isenção de imposto de exportação, de US$ 300 para US$ 150. Por causa da repercussão à época, o governo federal acabou adiando a vigência da portaria para julho deste ano, condicionando a aplicação de redução das cotas ao prazo de instalação das free shops, após 30 de junho.

Fonte: Correio do Estado