ENTREVISTA COM DIRETOR DO SETLOG MS E VICE-PRECIDENTE NTC NA CTGS

Como coordenador da CTGS (Câmara Técnica de Granéis Sólidos), represento uma categoria com capacidade de transportar um volume de mais ou menos 30 milhões de toneladas destes produtos no Brasil –  granéis sólidos (cimento, cal, gesso, amônia, soda caustica, porcelana, cinzas industriais, inclusive alguns grãos). Dentro da CTGS temos representantes dos Estados do Pará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, Goiás, ainda estamos buscando uma representação no Estado do Espírito Santo.

O que a CTGS busca?

A CTGS quer ser reconhecida pela indústria de cimento e usuários de carros a Granel, como sendo o endereço onde se poderá encontrar todas as soluções para os problemas de expedição e transporte que estas indústrias vierem a ter. Então, se a indústria tiver uma demanda relevante, por exemplo, a construção de uma barragem como a usina de Jacareacanga ou em Belo Monte, e precisar urgente duplicar ou triplicar a demanda, onde vai encontrar essa disponibilidade? – Na CTGS. A indústria entra em contato com a CTGS e a CTGS indica as transportadoras que estão aptas, que são idôneas e que tem capacidade para fazer este tipo transporte. Esta é a principal função desta Câmara, agregar representatividade do segmento a nível nacional.

Qual é a Função do Coordenador?

O meu trabalho consiste em agrupar estes transportadores, para o fortalecimento da categoria, mantê-los informados sobre os Acontecimentos Nacionais no Setor de Transportes, para sabermos sobre nossa capacidade atual de movimentação, capacidade esta que deve estar sempre acima do que é oferecido pelas demais empresas que estão fora da CTGS, e acima da demanda do embarcador. Veja, individualmente somos médios transportadores, mas unidos por uma Câmara Técnica temos uma frota imensa e podemos atender qualquer demanda em qualquer ordem de grandeza. Hoje, grandes indústrias como a InterCement, Votorantim, Brenam, Elizabeth, Ciplan e Cimpor, já nos conhecem e sabem a quem procurar quando têm essas demandas pontuais.

Participo das reuniões da CTGS há quatro anos, e estas reuniões são feitas lá na sede da NTC em SP. No entanto, desde o ano passado nós começamos a acompanhar os encontros do CONET (Conselho Nacional de Estudos de Custos em Transporte – NTC&L), a participação de todos os componentes da Câmara em todos os eventos demonstra o interesse no desenvolvimento do projeto de Sustentabilidade da CTGS  e isso fez com que eu fosse  convidado para participar diretoria da NTC e lá ocupasse um cargo de Vice-Presidente.

Pude observar que a realidade do granel, no agronegócio e nas indústrias químicas, as dificuldades enfrentadas, que vão dos desbravamentos da primeira estrada, da primeira carga, do caminhão que leva a semente, do caminhão que vai construir a Igreja ou o hospital são muito grandes e são situações que quase ninguém conhece e poucos têm noção desse trabalho, as adversidades são enormes. Imagine que um carro sai de São Paulo trafegando pela rodovia Castelo Branco, termina a sua viagem lá no interior do Amazonas e tem que cruzar por uma ponte de madeira, construída a 40 anos em que as pilastras, também de madeira, apresentam claros sinais de que é uma moradia de cupins e tem que colocar seu caminhão sobre ela. Quem remunera esse risco?! –

Quem remunera é a Coragem do caminhoneiro, o Espirito de desbravador que ele tem. Será que o tomador do frete em SP tem noção das condições daquela rodovia?

Levei para os encontros, questões diferentes, e quando expressei minha opinião e relatei o que conhecia do setor, os participantes quiseram me ouvir. Assim, pretendo na próxima reunião levar um vídeo da BR-163, de aproximadamente um minuto, para que vejam a quantidade, o volume de caminhões de granel que temos por aqui e as dimensões da nossa produção. Somente em Mato Grosso temos 200 mil caminhões, outros 60.000 no MS, que somados aos de Santa Catarina, do Paraná, do Rio Grande do Sul que vem trabalhar aqui, representam uma força descomunal para o nosso crescimento. Percebemos que essa força está se perdendo, ou melhor, está se ESPRAIANDO. Está chegando na praia e lá vai morrer, e essa alavanca de sustentação do Desenvolvimento e do Desbravamento do interior não está sendo vista pelas Autoridades do Executivo e do Congresso Nacional, que estão lá para representar o Povo do seu Estado e o seu Próprio Estado como necessário.

Não temos representantes no Congresso vinculados à nossa causa e que se disponham a atender aos nossos interesses, que digam à autoridade que ela precisa fiscalizar a aplicação das leis, e uma delas é a lei do cupom do pedágio, que deve vir destacado do frete, e que hoje as embarcadoras colocam em seu BID exigindo que a tarifa deva ser apresentada ou vir inclusa nessa verba. É assim que o sistema funciona, embora seja contrário a legislação, e ninguém pune. Os movimentos de embarque de soja estão aí no mercado para defender minha visão.  Quando levantei essa bandeira, todos ficaram curiosos, porque a empresa embarcadora usa o poder de convencimento ilusório, e para o transportador o valor fica sedutor, pois ele, embarcador, diz que paga R$ 250,00 a tonelada para determinado trecho, e a conta que se faz é a do faturamento bruto, todavia ela está com todos os impostos e pedágios inclusos.

Quando o transportador passar pelos pedágios o valor vai cair para R$ 213,00 e daí têm-se que ainda tirar o PIS/COFINS, que levam mais R$ 12,00 e o valor de R$ 201,00 não é mais suficiente para oferecer dignidade ao Empresário. Então, o papel da CTGS dentro da NTC é o de despertar os transportadores para estes direitos, que temos e que não são respeitados e que não estamos cobrando.
A indústria e o agronegócio têm uma bancada enorme no Congresso e apesar do setor de Transporte Rodoviário ser grandioso e muito importante, pois transportamos 73% dos produtos no Brasil, não temos ali nenhum representante por cujas veias corra óleo diesel como nas nossas, e é para isso que estamos trabalhando, para criar uma representatividade.

Outro detalhe importante que abordei dentro da CTGS foi o endosso que os transportadores dão através do silêncio, ao incentivo que o governo dá para a venda de caminhões subsidiando os transportadores independentes, e nós estamos quietos. Isso, para nós é e foi, um grande problema, haja vista que quanto mais caminhões estiverem na mão de “transportadores” informais e sem RNTRC, gente alheia ao setor, para exemplificar: médicos, dentistas, pequenas lojas de ferramentas, pintores de parede, borracheiros e até de bicicletarias, maior será a concorrência, e trata-se de uma concorrência desleal. Veja, por onde você passou para chegar até aqui. Passou por uma portaria, por uma recepção, empresa com um endereço fixo e em todos os pontos encontrou gente trabalhando, com os encargos sendo recolhidos em dia e com todas as formalidades cumpridas. Sem contar aqui, que você ainda está representando um sindicato.

Quando estaciono meu caminhão na fila do embarcador de soja, passo por todo um processo, tenho que cumprir uma planilha de custos complexa que vai para frente de 25 obrigações, diferentemente de quem compra caminhão subsidiado, com juros negativos – que negócio é esse de tomar emprestado pagando 8,0% de juros e emprestar a 2,0%? – e entra na mesma fila com seu caminhão e recebe a mesma tarifa de um transportador que paga todos os encargos. Estão faltando então, políticas públicas sérias para equalizar esta concorrência. Enquanto isso não acontece, nossas tarifas estão sendo niveladas lá pelas alturas dos Rodapés, o setor está desmotivado e outros tem perjúrios maiores. Mas alguém está ganhando, tenham certeza disso.

O Governo liberou com muita facilidade o financiamento para independentes, e nós ficamos quietos, não gritamos, não contestamos ou alertamos a autoridade no tempo certo. Uma empresa como a Vobeto não tem nenhum caminhão ano 2015, e como explicar esta situação se eu estou em plena atividade e meu CNPJ é o mesmo a 35 anos? A empresa deveria renovar sua a frota anualmente, e não pode fazê-lo porque não temos sequer demanda suficiente para dar utilidade aos caminhões que estão no pátio ociosos. Claro que é porque não temos faturamento suficiente para isso, e os serviços de frete estão sendo nivelados pelos forasteiros (aquele que comprou caminhão subsidiado, que não paga imposto e trabalha na informalidade), lá por baixo. Uma vez que este trabalha apenas com as vistas voltadas para o pagamento do “carnê” do banco. “Se der ótimo, se não der, devolvo para o Banco”.
Além de tudo isso, temos um passivo trabalhista muito alto, e uma série de obrigações para cumprir. Nossos clientes exigem muitos treinamentos, ações sociais, temos que participar e desenvolver projetos, enquanto que o forasteiro ou independente não tem nenhuma obrigação e, no entanto, recebe a mesma tarifa que o transportador regulamentado. Neste cenário, o transportador não pode renovar sua frota, pois a parcela de seu financiamento não cabe no faturamento e o independente encontra todos os ventos soprando a seu favor.

Sobre os problemas do passivo trabalhista com que sempre nos deparamos, é prática utilizada pelo Judiciário, não considerar nossas tradições, usos e nossos costumes. Poucos ali, sabem dizer sobre os usos e costumes praticados ao longo do Desenvolvimento do Setor de Transporte Rodoviário de Cargas, ou qual é a tradição, e menos ainda, são os que procuram inteirar-se desses fundamentos.  O aplicador ignora a nossa tradição, as nossas histórias de bravura e coragem, os modos, os enfrentamentos a que somos submetidos nas adversidades, uma delas já citada aqui, para levar o desenvolvimento do País lá nos grotões, e quando se faz uma defesa trabalhista e se expressa isso, estamos querendo chamar a atenção do Judiciário para esses fundamentos. Nada é mais honrado para um Caminhoneiro do que sua Tradição e seus Costumes, tanto tem valor para um homem da Estrada como para o cidadão que a Constituição Federal preserva e recomenda a aplicação do bom-senso respeitando-os. Precisamos divulgá-los para que todos saibam, para que todos utilizem e todos conheçam as nossas origens. Estou falando do Transportador Rodoviário de Cargas, naturalmente. Então, como coordenador CTGS sou o porta voz desta gente, o que liga o alerta para a situação, que conta sobre a nossa história, diz da representação do setor de granel, lá dentro da NTC. 

Além do passivo trabalhista e da carga tributária exacerbada, hoje trabalhamos até 1º de junho para honrar Impostos, Taxas, Contribuições, etc., temos ainda, alguns transportadores fazendo, inclusive, o papel do Estado, principalmente na carga fracionada, em que o Estado usa o depósito do transportador, até que o contribuinte pague o imposto das mercadorias e retire-a, e não somos remunerados por isso.

Precisamos, finalmente, qualificar e melhor preparar a nossa mão de obra, porém o incentivo é pouco ou desinteressado, e se não tivermos mão de obra qualificada para trabalhar no Setor, não despertamos o interesse dos investidores para instalação de novos negócios. Façamos um comparativo entre a quantidade de estudantes nos cursos preparatórios do SEST/SENAT de Campo Grande e Londrina. Observem a diferença e a representatividade das nas nossas indústrias – aquelas que usam nossos serviços – e representatividade das indústrias nos outros estados, apesar de termos uma situação geográfica favorável. Temos divisas com Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, além de duas fronteiras internacionais. Por isso nós deveríamos ser o Centro Industrial na região CO, e não o somos por faltar aperfeiçoamento, aprimoramento e qualificação da nossa mão de obra. – Detalhe, os caminhões fabricados aqui hoje são os mesmos que são fabricados lá na Europa ou EUA, porém, os operadores não têm a mesma preparação. É muito constrangedor ter que lidar com essa situação.

Finalizo dizendo a vocês que entendo que as alavancas que impulsionam o Progresso ainda são a Educação e o Trabalho.

Fonte: Marketing SetlogMS