Com setor em crise, sete usinas pedem recuperação judicial

Só em 2015, três usinas de Mato Grosso do Sul entraram com pedido de recuperação judicial, somando sete unidades na mesma situação, desde 2009. O setor sucroalcooleiro ainda termina o ano com outro saldo negativo: fechamento de 221 empregos com carteira-assinada, entre janeiro e outubro, de acordo com último levantamento do Radar Industrial da Federação das Indústrias (Fiems). O cenário do setor, um dos principais dentre as atividades econômicas do Estado, preocupa toda a cadeia produtiva, mas principalmente os empregados das usinas, que são diretamente prejudicados pela crise nas finanças das empresas. “O setor está nos assustando, estamos muito preocupados com o que pode acontecer”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Usinas de Açúcar e Álcool de Dourados e região, Ouviedo Santos. O grupo mais recente a pedir recuperação judicial é o Tonon Bioenergia, que administra três unidades, sendo duas em São Paulo e uma em Mato Grosso do Sul, na cidade de Maracaju.

O pedido foi feito no último dia 9 e, se a Justiça aceitar, a companhia terá 60 dias para submeter um plano de recuperação a seus credores e, posteriormente, mais 120 dias para discutir e aprovar a proposta. As dívidas da Tonon com empréstimos e financiamentos somam R$ 2,8 bilhões, mas podem chegar a R$ 3,3 bilhões se forem considerados também os débitos trabalhistas, com fornecedores e impostos. A empresa informou que as atividades das usinas devem ser mantidas e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores confirma que, até o momento, não há demissões ou interrupção no trabalho. Cerca de um mês antes, a Unialco tinha pedido a recuperação judicial, com débitos de cerca de R$ 700 milhões, sendo 97% desses com institiuições bancárias. A empresa tem unidade no Estado, em Aparecida do Taboado e a sede fica em Guararapes (SP). Já a primeira a pedir socorro para sair da crise neste ano foi a Energética Santa Helena, em julho. A usina fica em Nova Andradina e a dívida estimada é de R$ 100 milhões, de acordo com a assessoria de imprensa, que ainda informou que as atividades foram mantidas normalmente. Segundo a empresa, foram feitas demissões, mas “dentro do normal de operação” e os trabalhos de moagem só tiveram paradas por conta das chuvas. A capacidade é de 2 milhões de toneladas por ano/safra.

Insegurança

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores, Ouviedo, frisa que sempre quando há anúncio de que uma nova empresa entrou com pedido de recuperação judicial os trabalhadores ficam apreensivos, preocupados se ainda terão o emprego no próximo dia ou mês. “O trabalhador perde a confiança na empresa. Quando a empresa entra em recuperação é porque alega que está sem dinheiro, então, pode ter demissão, atraso de pagamento ou deixar de pagar alguns benefícios, como plano de saúde”, frisa. Ele lembra os atrasos nos salários dos funcionários da Usina São Fernando, que está em recuperação judicial desde 2013.

Recente mente, o presidente afirma que os empregados tiveram problemas com o pagamento do plano de saúde. “Funciona hoje, daqui a três dias para de funcionar, depois volta. Sempre que a empresa atrasa o pagamento para o plano, eles cortam o serviço. Já tivemos o caso de uma mulher grávida que na hora de ter o bebê não conseguia atendimento porque o plano estava atrasado”, conta. Neste mês, a São Fernando obteve da Justiça autorização para realizar uma nova assembleia geral de credores (AGC) para deliberar sobre um novo plano de pagamento. A indústria tem débitos de cerca de R$ 1,2 bilhão, e é controlada por duas holdings pertencentes aos filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, preso no âmbito da Operação Lava Jato por suspeita de participação no desvio de recursos da Petrobras. A reportagem entrou em contato com a usina, mas foi informada de que a ligação não poderia ser transferida para a administração porque “ninguém tinha interesse em falar sobre o assunto recuperação judicial”.

Fonte: Correio do Estado