Entre o trimestre encerrado em maio de 2014 e o mesmo período deste ano, o país perdeu 708 mil empregos com carteira assinada, queda de 1,9% no total. A variação da renda média real de todos os trabalhos passou de alta de 2,6% para queda de 0,4%, em relação a iguais intervalos do ano anterior, e o aumento da ocupação desacelerou de 1,7% para 0,3%, na mesma comparação.
Os sinais de deterioração do mercado de trabalho aparecem de forma generalizada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, e vão além do aumento da taxa de desemprego de 7% de março a maio 2014 para 8,1% no mesmo trimestre móvel deste ano.
O avanço de 0,3% na ocupação entre março e maio, ainda que positivo – na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, caiu em maio pelo sexto mês seguido, também em relação ao mesmo período do ano anterior -, é o menor da série com variações anuais, que começa em 2013. Indicador oficial, a PME abrange seis regiões metropolitanas, enquanto a Pnad Contínua tem cobertura nacional, com presença em quase 3,5 mil municípios.
A geração de emprego tem arrefecido de forma constante na Pnad desde o início do ano. O economista Bruno Campos, da LCA Consultores, chama atenção para o comportamento dos serviços, onde esse movimento se repete. Entre o trimestre móvel encerrado em janeiro e aquele terminado em maio, o crescimento no volume de empregados na média entre os sete segmentos que compõem o setor no levantamento desacelerou de 4% para 2,3%, na comparação com iguais intervalos do ano anterior.
“O setor de serviços responde por 48% da ocupação total da Pnad Contínua. Qualquer ponto percentual é significativo”, afirma Campos. Entre os setores, o pior desempenho foi o da construção civil, que reduziu o total de funcionários em 8% sobre o trimestre móvel encerrado em maio de 2014.
Com queda no emprego com e sem carteira assinada – de 1,9% e 3%, nessa ordem, no confronto com o mesmo trimestre de 2014 -, o aumento do trabalho por conta própria e dos empregadores sustentou o resultado positivo da ocupação. Eles subiram 4,4% e 8,1%, respectivamente. Ao lado do crescimento de 0,5% no grupo dos trabalhadores domésticos, essa composição expõe a precarização em curso no mercado de trabalho, afirma Igor Velecico, do Bradesco.
Para ele, além do comportamento da renda média real de todos os trabalhos, que caiu 0,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, a comparação entre os rendimentos nominais habitual e efetivamente recebidos do trabalho principal também revelam o desgaste do emprego em 2015.
Com trajetórias semelhantes desde o início da série que leva em conta a variação sobre o mesmo período do ano anterior, em 2013, ambas passaram a descolar desde o trimestre móvel encerrado em janeiro. Naquele período, a renda habitual do trabalho principal – aquela que o entrevistado declara ao IBGE que costuma receber mensalmente – cresceu 8,7% em termos nominais, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, contra alta de 8,2% na renda nominal efetiva – aquela que o trabalhador disse ter recebido de fato (e que, portanto, faz referência ao trimestre anterior).
No trimestre móvel encerrado em maio, essa diferença chegou a 0,9 ponto percentual, com a renda habitual avançando 7,6% e o rendimento efetivo, 6,7%.
A diferença, diz Velecico, está ligada a perdas na renda variável, algo comum em cenários de recessão como o atual. “Essa perda pode vir de um trabalhador que costumava fazer horas extras e não faz mais, de um garçom que tinha parte da renda mensal atrelada às gorjetas e que, agora, tem visto esse rendimento cair”, exemplifica. “É mais um sintoma da crise. “
O coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, observa que os dados de maio mostram uma deterioração adicional do mercado de trabalho, que desde o fim do ano passado já sinaliza desaceleração entre os indicadores. “O aumento da desocupação ocorre de forma mais intensa do que o observado em anos anteriores para o mesmo período”, comenta, referindo-se à alta de 18,4% no contingente de desempregados em relação ao mesmo período do ano passado (1,269 milhão de pessoas a mais), a maior variação da série histórica.
Fonte: Valor Econômico