(Foto: capitalnews.com.br)
Com 1.051 postos de trabalho fechados de janeiro a maio deste ano, número 231,5% inferior ao total registrado no mesmo período do ano passado, o comércio de Mato Grosso do Sul apresentou o pior saldo de empregos com carteira assinada da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), iniciada em 2003.
No ano, o segmento ficou atrás apenas da construção civil (com saldo negativo de 1.194 postos de trabalho) em menor índice de geração de empregos. Em cinco meses, foram contratadas 31.313 pessoas, mas 32.364 perderam seus empregos no setor, como reflexo da passagem da recessão técnica, no fim do ano passado, para um cenário de recessão instalada na economia nacional.
A má notícia é que o cenário de desemprego reúne todas as condições para agravar-se, diante da retração de consumo, aumento da inadimplência e expectativa de novos reajustes de preços administrados pelo governo. “Já saímos (Brasil) da recessão técnica, no fim do ano passado, mas entramos numa profunda recessão agora, por falta de alinhamento econômico, não realizado durante a crise mundial. Não criamos condições para enfrentar o cenário de agora e sobreveio a crise que afetou primeiramente a indústria e agora acarreta o fechamento de postos de trabalho no comércio. Quem tem 10 funcionários vai fazer de tudo para continuar operando com oito, ou o menos possível. Penso que essa crise só deve ser amenizada no próximo ano”, analisa o economista Thales de Souza Campos.
Ele ressalta ainda que, observando o setor comercial em relação ao secundário (industrial) e o primário (agropecuária), o comercial é o que comanda a atividade econômica em Mato Grosso do Sul e, por ser a matriz, isso faz com que a sua recuperação seja mais complexa. O comércio já havia sido afetado nas datas sazonais, como o Natal; porém, a recessão estendeu-se e atingiu segmentos que costumam beneficiar-se do aumento das vendas em períodos específicos, como o de vendas de material escolar, um dos milhares dentre o varejo.
Mas, mesmo nesse setor, destacou, não houve recuperação de vendas por causa da redução do consumo, com reaproveitamento de materiais do ano anterior. No decorrer do ano, esse comportamento foi mantido e outra data importante para as vendas, que é o Dia das Mães, também não foi boa para o comércio. Diante desse resultado, a oferta de empregos temporários diminuiu e o percentual de empregos definitivos caiu.
“Se havia 10 empregos temporários abertos, em média de dois a quatro eram mantidos como efetivos, o que também não aconteceu”, comentou. Impactos Consequentemente, segundo Thales de Souza, algumas portas se fecharam e outros estabelecimentos também vão fechar, a não ser que o empresário “tenha grande criatividade”. Ele lembra que todos os custos e encargos aumentaram — a energia elétrica foi o maior deles —, o setor permanece retraído e esse cenário não vai terminar agora, pelo contrário, deve alongar-se, com a perspectiva de novos aumentos de preços de outros serviços gerenciados pelo governo e administrados pelo setor privado.
“Nesta semana, por exemplo, foi liberado (pela Agência Nacional de Transportes Terrestres) o reajuste das passagens de ônibus interestaduais (com vigência a partir de 1º de julho); em breve também deve ser anunciado o reajuste da tarifa de ônibus urbano”, enumerou. Na última semana, acrescentou, a Assembleia Legislativa aprovou projeto de lei que reduz a alíquota do ICMS do diesel de 17% para 12%, o que pode reduzir em parte os custos, porém, a própria natureza da medida é provisória, por seis meses, e não leva em conta outros custos do próprio transporte, como pneus e manutenção de peças. Para o economista, “navegar” em meio a esse cenário de crise requer atenção redobrada.
“Para o empresário, criatividade e competência gerencial; para o consumidor, o máximo de planejamento e organização e principalmente priorizar as próprias compras, em especial para aquelas a prazo, já que os juros estão muito altos, com destaque para o cheque especial. Além disso, com o desemprego, vai aumentar a inadimplência. Thales de Souza alerta que, mais do que nunca, empresas e consumidores precisarão estar dispostos à negociação.
Setor tem saldo de -705 postos na Capital
Em Campo Grande, os números do desemprego no comércio também são expressivos. O setor fechou nos últimos cinco meses 705 vagas, 14,6% a menos que o saldo do mesmo período do ano passado (-615 vagas), pior resultado para o período desde o início da série histórica do Caged. Foram 14.875 contratações e 15.490 demissões de janeiro a maio deste ano. De acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), João Carlos Polidoro, os motivos para o resultado estão diretamente associados à queda de postos de trabalho verificados na construção civil — somente até maio deste ano, o segmento acumula saldo negativo de 131 empregos com carteira assinada, sendo superado apenas pela indústria de transformação (-492 postos de trabalho).
“A construção civil vem na frente e faz um ‘estrago’ maior porque tem um consumidor que fomenta as classes C e D. Quando ele está sem renda, afeta o comércio. As contratações são feitas no fim do ano e em janeiro e fevereiro demite-se, mas nesse ano as demissões aconteceram com muito mais força, porque o consumidor está sem perspectiva de renda e o índice de confiança na economia está cada vez mais baixo”, avalia.
Para completar esse cenário, destacou, vem agora a lei que reduz desoneração das empresas, já aprovada pela Câmara dos Deputados e encaminhada para votação no Senado, “que vai piorar ainda mais a situação”. A nova legislação aumenta alíquotas incidentes sobre a receita bruta de empresas de 56 setores da economia com desoneração da folha de pagamentos — as alíquotas atuais, de 1% e 2%, sobem para, respectivamente, 2,5% e 4,5%. “Entendemos que não é o momento de aumentar imposto, mas o governo federal, em vez de cortar na própria carne, vai tirar do cidadão e da empresa para poder continuar mantendo a própria máquina e as demissões agora vão continuar”, criticou. Do lado das empresas, o cenário de recessão se traduz em fechamento de estabelecimentos, principalmente entre os pequenos negócios, mais vulneráveis à crise. (DA)
Fonte: Correio do Estado