Alta da gasolina reduz em 25% ganhos no setor de transporte
Os reajustes dos combustíveis, associados a outros aumentos praticados neste ano, impactam acentuadamente sobre atividades diversas do setor de transporte. As perdas financeiras resultantes desse quadro alcançam 25%, segundo estimaram profissionais de diferentes áreas em Campo Grande.
Além de derrubar os lucros no setor, o cenário de altas também pressiona avanço de demissões. De todos os grupos inflacionários, o do transporte é o que acumula, em 12 meses, a maior majoração na Capital.”Dependemos diretamente dos combustíveis”, resumiu o presidente do Sindicato dos Taxistas de Mato Grosso do Sul (Sintaxi/MS), Bernardo Quartim Barrios.
Ele conta que a tabela de preços estava desatualizada havia três anos e foi corrigida em 16,73%, em setembro de 2014.
Essa variação, no entanto, tornou-se inócua com os reajustes dos combustíveis, que têm forte peso nos custos diários
dos taxistas.”As despesas deveriam ser de 30%, mas já estão batendo na casa dos 40%”, reclama Barrios. De acordo com o presidente do sindicato, além dos combustíveis, outras altas têm reduzido os lucros dos taxistas.”O pneu e os serviços de manutenção do veículo também ficaram mais caros”, observa.
Esses custos maiores ainda não foram repassados para a tabela.”Estamos trabalhando no sacrifício, evitando passar esses aumentos para os passageiros”, disse.
Por segurar os impactos das majorações, os taxistas arcam com perdas médias de 25% nos lucros,calcula Barrios.
O taxista Odevaldo Pegaz, 67 anos de idade e 40 de profissão, está entre os que viram o dinheiro no fim do dia minguar, com a valorização dos combustíveis. Diariamente, ele movimenta em torno de R$ 200, dos quais R$ 50, em média, são gastos com gasolina, ou seja, 25% do faturamento é usado para cobrir despesas com combustível. “Está bem difícil”, avalia.
Ele acrescenta que há, ainda, outros custos, como manutenção do veículo e serviço de lava a jato. Situação semelhante a dos taxistas é vivenciada pelos mototaxistas.
Conforme o presidente do sindicato que representa a categoria em Campo Grande, Dorvair Boaventura, os reajustes dos combustíveis não foram repassados para os clientes.”Com isso, nosso lucro caiu, em média, 15%”, afirma.
O agravante, conforme Boaventura, é que os preços estavam defasados há dois anos e, no segundo semestre de 2014, foram apenas atualizados.
Escolar
Outro segmento, diretamente penalizado pelas majorações dos combustíveis, é o do transporte escolar. Conforme a presidente do sindicato dos profissionais da área em Campo Grande, Luciene Feliciano Oliveira, não existe uma tabela única de preços.
“Os reajustes variam, caso a caso.Eu, por exemplo,aumentei [o valor da mensalidade] 10% no início do ano”, afirmou. Essa alta é maior que a aplicada por Luciene em 2014, que foi de 6%. “Precisei aumentar mais neste ano”, diz.
Os 10% de majoração também foram praticados pela motorista de transporte escolar Sandra Therezinha Marocco, 56 anos.”Eu preciso abastecer a cada dois dias”, estima.
Isso representa gasto aproximado de R$ 80, considerando o valor médio da gasolina em Campo Grande (R$ 3,32, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
Além da elevação dos custos com combustível, outro problema, mencionado por Sandra, é a perda de clientes.”Tem muitos clandestinos”.
TÁXIS.
O lucro dos taxistas recuou em média 25% com as altas nos preços dos combustíveis, além do maior custo com pneus e manutenção na cidade. Eles cobram mais barato e, com isso, perdemos clientes”, queixa-se. Os maiores custos e a redução do movimento atenuaram o efeito do reajuste aplicado por Sandra noinício do ano.
Mesmo com a alta dos valores de seu serviço, a motorista fecha sua contabilidade no vermelho. “Calculo uma perda no lucro de aproximadamente 20% do ano passado para cá”, conta.
Inflação
Em razão dos aumentos dos preços dos combustíveis desde o fim do ano passado, a inflação acumulada pelo setor do transporte, em 12 meses, é de 11,3% na Capital.Essa variação é a maior entre os grupos considerados no Índice de Preços do Consumidor de Campo Grande (IPC-CG), calculado pelo Núcleo de Pesquisas Econômicas (Nepes) da Universidade Anhanguera-Uniderp.
Inflação acumulada em Campo Grande variação em 12 meses:
Transportes 11,3%
Alimentação 9,54%
Habitação 9,4%
Despesas Pessoais 8,95%
Geral 8,08%
Educação 7,68%
Vestuário 1,13 %
Saúde 0,38 %
0 Mercado de trabalho tem queda de 20% nas vagas
O impacto dos preços dos combustíveis também é sentido no mercado de trabalho. De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog-MS), Cláudio Cavol, as empresas do segmento reduziram em 20% o quadro de seus funcionários, desde o início deste ano.São cerca de 7 mil pessoas demitidas em todo o Estado, segundo estimativa de Cavol.”Não só os motoristas [que perderam seus empregos], mas também trabalhadores de outras áreas, como do setor administrativo, por exemplo”, detalha.”Esta é uma das maiores crises vividas pelo segmento de transportes nos últimos 20 anos”, comenta.
Ele afirma que o frete foi majorado no início da safra da soja (o que ocorre todos os anos), mas, com a colheita da oleaginosa prestes a findar, o valor caiu para os patamares de janeiro. Assim, a elevação dos custos passou a ser
sentida com mais intensidade.
Segundo Cavol, a expectativa do segmento é que o problema possa ser amenizado com a redução da Contribuição de intervenção no Domínio Econômico (Cide) e do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), incidentes sobre o diesel. As medidas dependem, respectivamente, dos governos federal e estadual.
Fonte: Correio do Estado