Corredor bioceânico pode impulsionar exportação de carne bovina em Mato Grosso do Sul

Nova rota encurta trajeto para Chile e Ásia; setor de transportes alerta para desafios logísticos

Mato Grosso do Sul pode estar prestes a mudar sua forma de exportar carne bovina. Com a construção do corredor bioceânico, que ligará o Brasil ao Chile por meio do Paraguai e da Argentina, o estado pode ganhar uma alternativa mais curta e barata para escoar sua produção. Hoje, a carne sul-mato-grossense percorre caminhos longos e burocráticos até chegar ao Chile ou aos portos do Oceano Pacífico. O corredor promete encurtar essa rota e dar um fôlego extra para o setor frigorífico.

Atualmente, 360 mil toneladas de carne bovina saem do Mato Grosso do Sul com destino ao Chile. Para chegar lá, seguem por três caminhos: via Paraguai, passando por Assunção; pelo Paraná, rumo à Argentina; ou pelo Rio Grande do Sul, atravessando a fronteira argentina. Se a carga tiver como destino os mercados asiáticos, o percurso fica ainda maior: a carne segue até o Porto de Santos, de onde parte para atravessar o Canal do Panamá ou contornar a África antes de chegar à China.

A nova rota, que passará por Porto Murtinho, cruzando a ponte binacional em Carmelo Peralta (Paraguai) e seguindo pela Argentina até os portos chilenos de Antofagasta ou Iquique, pode mudar esse cenário. Com o novo trajeto, o tempo de transporte da carne até o Chile pode ser reduzido em até 1.000 km e, para os mercados asiáticos, o corredor pode cortar 7.000 km do trajeto e economizar até 20 dias de viagem.

“O principal benefício da Rota Bioceânica para a indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul será a ampliação das exportações para o Chile e o Peru. Já para outros mercados globais, a viabilidade econômica dependerá da competitividade dos custos logísticos no novo corredor de exportação”, explica Sérgio Capucci, vice-diretor do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de MS (Sicadems).

Uma ponte no meio do caminho – O corredor bioceânico já está saindo do papel. A ponte binacional entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta já tem 65% das obras concluídas, o que significa que a nova rota começa a se tornar realidade. Mas há desafios. O setor de transportes alerta que a burocracia aduaneira pode se tornar um entrave.

Claudio Cavol, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e Logística do Mato Grosso do Sul (SETLOG/MS)Claudio Cavol

“Hoje, os caminhões podem levar de 7 a 8 dias apenas para cruzar Mato Grosso do Sul e o Paraguai, passando por diferentes etapas burocráticas nos dois países”, diz Cláudio Cavol, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas de MS (SETCEMS). Ele defende que, para que a Rota Bioceânica funcione, é preciso reduzir o tempo de espera nas alfândegas.

Outro fator que preocupa o setor é a infraestrutura viária. A rota atravessa quatro países e as estradas precisarão estar preparadas para um fluxo maior de caminhões. “É fundamental que a via seja bem sinalizada e que existam estruturas adequadas para os motoristas, como postos de gasolina, restaurantes e suporte logístico ao longo do trajeto”, acrescenta Cavol.

Enquanto os caminhões esperam a burocracia andar, o setor já começou a se preparar. A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) ofereceu um curso de formação para motoristas sem experiência em transporte internacional. A primeira turma já se formou, em Jardim. A ideia é qualificar profissionais para operar dentro das novas exigências da rota.

Menos tempo, menos custo, mais exportação – O corredor bioceânico pode transformar Mato Grosso do Sul em um dos principais pontos de escoamento da carne bovina brasileira para o mundo. Hoje, um navio que sai do Porto de Santos rumo à China leva 54 dias para chegar a Xangai, percorrendo 24 mil km via Canal do Panamá. Com a nova rota, esse tempo será reduzido em 12 dias e 5.479 km.

Para o governador Eduardo Riedel, o projeto é um marco para o estado. “O corredor bioceânico passou a ser uma realidade. Nossos produtos vão seguir por um caminho mais rápido tanto para os países vizinhos quanto para o mercado asiático pelo Oceano Pacífico. Estamos testemunhando a realização de um grande sonho”, afirma.

Com distâncias menores e um trajeto mais eficiente, Mato Grosso do Sul pode consolidar sua posição como um grande corredor de exportação para o mercado global. A expectativa é que o fluxo de transporte aumente entre 5% e 10% ao ano, impulsionando o PIB estadual e tornando a carne sul-mato-grossense ainda mais competitiva. Agora, falta resolver os últimos entraves e garantir que, na prática, o novo caminho seja tão promissor quanto parece.

Fonte: Portal A Crítica