O fechamento de frigoríficos é apenas parte da crise que afeta o mercado de pecuária bovina de Mato Grosso do Sul, setor que responde pela segunda maior cifra do País em se tratando de valor bruto da produção (VBP). A redução significativa da atividade frigorífica afeta outro segmento industrial: o de processamento de couro bovino. Os curtumes do Estado cortaram a produção em 66% e passaram a importar um terço do volume total de couro. Esse cenário contribuiu para a piora das estatísticas do mercado de trabalho: apenas em Campo Grande, o segmento de couro demitiu aproximadamente 300 trabalhadores, neste ano.
“Produzíamos 3 mil couros por dia. Agora, a nossa produção caiu para mil. Além disso, estamos importando cerca de 500 couros diariamente”, afirmou Roberto Berger, empresário do setor. Segundo Berger, que é proprietário de um curtume em Campo Grande, importação de couro é algo inédito no mercado sul-mato-grossense. “É a primeira vez que estamos trazendo couro de outros estados”, enfatizou. “O setor está bastante complicado”, acrescenta.
A redução acentuada da oferta pode pressionar ainda mais os números modestos das vendas externas. De janeiro a maio de 2015, Mato Grosso do Sul exportou 14,947 mil toneladas de couros e peles de bovinos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). A variação é de -34,14% em relação às 22,695 mil toneladas embarcadas em iguais meses de 2014. A retração em receita foi no mesmo patamar: passou de US$ 80,291 milhões em 2014 para US$ 52,785 milhões neste ano, decréscimo de 34,25%.
Segundo Berger, há oito curtumes ativos em Mato Grosso do Sul, dos quais três estão em Campo Grande. Apenas as unidades da Capital demitiram aproximadamente 300 trabalhadores, conforme estima o empresário. Em sua indústria, Berger tem, atualmente, 130 funcionários. “Eram quase 300”, informa.
Desemprego
Os dados negativos do setor de couro se relacionam a outras estatísticas da cadeia produtiva de bovinos. De acordo com a Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidoras de Carnes do Estado (Assocarnes-MS), 13 plantas encerraram as atividades em Mato Grosso do Sul desde o fim de 2014. No total, aproximadamente 6,7 mil trabalhadores ficaram desempregados. Isso desembocou em queda acentuada no saldo de empregos (diferença entre contratações e demissões). Conforme o Ministé- rio do Trabalho e Emprego (MTE), os frigoríficos do Estado fecharam, neste ano (janeiro a maio), 1.110 vagas.
Abates
Neste contexto, a oferta de carne bovina caiu acentuadamente. Conforme a Superintendência Federal de Agricultura em Mato Grosso do Sul (SFA/MS), foram abatidos, de janeiro a maio (último dado), 1.424.739 bovinos no Estado. Esse volume é 12,5% inferior ao de igual período de 2014 (1.629.719) e é o menor desde 2011 (1.303.515).
Os movimentos mensais deste ano mostram que o ritmo de abates continua recuando: em janeiro, foram abatidos 317.888 bovinos; em fevereiro, 283.082; em março, 284.390; em abril, 272.042; e, em maio, 267.337. Na comparação entre esse mês e janeiro, a diminuição é de 15,9%. Em relação a maio de 2014 (334.949 abates), a variação é de -20,18%.
Mercado bilionário
A crise da pecuária bovina impacta, de modo acentuado, a economia de Mato Grosso do Sul, em razão dos valores bilionários desse setor. De acordo com estimativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o valor bruto da produção (VBP) do segmento de bovinos no Estado soma R$ 8,739 bilhões em 2015. Esse montante só é superado pelo de Mato Grosso, projetado em R$ 11,476 bilhões.
O VBP de bovinos equivale a 80% do total do valor movimentado pela pecuária em seu conjunto, que é de R$ 10,89 bilhões.
Fonte: Correio do Estado