Demissões fecham 298 mil vagas em junho

(Foto: bonde.com.br)

Em junho, as seis regiões metropolitanas que compõem a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) perderam 298 mil vagas, na comparação com o mesmo mês do ano passado, 240 mil delas com carteira assinada. Os cortes representam retração de 1,3% na população ocupada da PME, a maior desde o início de sua série histórica, em 2003. Todos os setores registraram resultados negativos ¬ inclusive os serviços, que, no consolidado dos cinco ramos acompanhados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), observaram a segunda redução consecutiva no mês passado, de 0,7% sobre junho de 2014.

Ainda na comparação com o mesmo mês do ano passado, o levantamento apurou a quinta queda consecutiva na renda média real, de 2,9%, e na massa salarial, de 4,3%. A taxa de desemprego passou de 6,7% em maio para 6,9%, contra 4,8% em junho de 2014. Os dados reforçam a trajetória de rápido esfriamento do mercado de trabalho neste ano, avalia Fabio Romão, da LCA Consultores. Dessazonalizada, a taxa de desemprego de junho foi de 6,5%, a maior desde agosto de 2010, ressalta o economista. “É a sexta alta consecutiva na série com ajuste”, afirma. O desempenho foi puxado por uma piora do emprego em praticamente todos os setores, o que se repete na análise do semestre. Entre janeiro e junho, a ocupação na indústria cedeu 4,7% em relação ao mesmo período de 2014, quando houve queda de 2,5%, na mesma comparação.

A construção diminuiu o quadro de funcionários em 3,8%, ante queda de 1,2% de janeiro a junho de 2014. Nos serviços, o total de trabalhadores empregados subiu 0,3% no período, longe dos resultados de 2014 (1%) e de 2013 (1,9%). “Isso deixa claro que os serviços pararam de ajudar [os indicadores de emprego] neste ano”, diz Romão. Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE responsável pela PME, também destaca os cortes de vagas, que, para ela, têm se tornado cada vez mais intensos. “Antes havia um processo de dispensa mais acentuado na indústria e na construção, agora começa um processo de dispensa em setores antes intactos, como comércio e serviços prestados.” Luciano Rostagno, estrategista¬chefe do Banco Mizuho do Brasil, chama atenção para o comportamento da população economicamente ativa, que, apesar de crescer em nível superior ao de 2014 ¬ quando encolheu 0,7% ¬, mantém sua trajetória relativamente em linha com o avanço demográfico. Em junho, subiu 0,9% no confronto com o mesmo mês do ano passado, ante alta de 1% na população em idade ativa.

Esses dois movimentos mantiveram a taxa de participação ¬ a proporção de pessoas ativas na força de trabalho, como ocupadas ou em busca de uma vaga ¬ estável em 55,9% no mês passado. Apesar da forte alta do desemprego, que ficou em junho 2,1 pontos percentuais acima do nível do mesmo mês de 2014, a procura por trabalho não aumentou no mesmo ritmo da deterioração das condições do mercado de trabalho no primeiro semestre. Esse movimento deve aparecer de forma mais clara no próximo ano, avalia Rostagno. Com a taxa de participação mais próxima da média histórica, de 56,8%, a taxa de desemprego média de 2016 deve chegar a 8,5%, segundo o Mizuho. “O país também passa por uma recessão forte, sem perspectiva de melhora no próximo ano, e enfrenta graves problemas estruturais”, acrescenta. Para 2015, a estimativa é de 6,6%.

Fonte: Valor Econômico