Governo esquece rodovias federais de Mato Grosso do Sul

(Foto: rastro101.com.br)

Situação de abandono das rodovias federais de Mato Grosso do Sul vai demorar a ser resolvida no Estado, por um motivo: o governo federal só pagou 1,93% (R$ 4,636 milhões) dos R$ 240,4 milhões que a bancada federal sul-mato-grossense assegurou no Orçamento Geral da União deste ano, para manutenção de toda a extensão das estradas.

Para o coordenador da bancada federal sul-matogrossense, deputado federal Vander Loubet (PT), as BRs 262, 267 e 163 seriam entregues à iniciativa privada, segundo estudos do Ministério dos Transportes; porém, as duas primeiras estradas foram retiradas da licitação que ocorreu em dezembro do ano passado, fazendo com que “a BR-262 ficasse sem investimentos.  Não se colocaram recursos para manutenção dela no Orçamento, porque, até a última hora, a rodovia estava incluída no processo de licitação, mas, depois, foi retirada. No ano que vem, colocaremos recursos no Orçamento, para que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) faça a devida manutenção da rodovia”.

Para o deputado federal Geraldo Resende (PMDB/ MS), “realmente, a paralisia tomou conta do Dnit de
Mato Grosso do Sul após a saída do ex-governador
Marcelo Miranda, o engenheiro Carlos Roberto Milhorim (engenheiro-chefe do Dnit em Dourados (MS) e Guilherme Alcântara de Carvalho (também lotado em Dourados)”.

Segundo ele, “o Dnit entrou numa inércia total no Estado. Depois, houve o projeto de concessão, no qual as rodovias 262 e 267 entrariam na licitação. Nesse período, elas não receberam investimentos.  As rodovias ficaram um tempão sem investimentos”, completou.

O parlamentar ainda disse que elas precisam de manutenção permanente, em virtude do fluxo intenso de veículos pesados. “O próprio governo refreou os investimentos.  Agora, precisamos correr atrás. No próximo Orçamento, a liderança da bancada levará, com certeza, o problema para discussão e viabilizará recursos melhorar a infraestrutura em Mato Grosso do Sul”, opinou. O deputado federal Akira Otsubo (PMDB), que utiliza as BRs 262 e 267 para ir, com frequência, a Três Lagoas e Bataguassu, disse que vai propor na elaboração do Orçamento do próximo ano aumento de recursos para a conservação das rodovias federais do Estado e que vai tentar, este ano, junto ao governo federal, a liberação do valor restante para a recuperação das estradas. “Por ser ano eleitoral, fica mais difícil liberar o recurso (a legislação eleitoral limita a aplicação de recurso  federais até o fim das eleições), mas vou até o ministério falar da importância de liberar o dinheiro. Se o Dnit priorizar, sai”, enfatizou o parlamentar. Este abandono existe, mesmo com os parlamentares federais do Estado assegurando, na peça orçamentária, R$ 240,4 milhões para conservação das rodovias federais em Mato Grosso do Sul. Entretanto, deste total, apenas R$ 57,8 milhões foram empenhados (procedimento contábil que antecede a liberação) e, destes, só foram pagos  R$ 4,636 milhões, o que representa 1,93% do montante que o governo federal poderia investir. Os dados são do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal).

MAIS RECURSOS

Também, a bancada federal conseguiu garantir R$ 63,133 milhões no Orçamento, para asfaltamento da BR-419, entre Rio Verde de Mato Grosso e Aquidauana. Outro investimento é a construção da BR-483, entre a divisa do estado de Goiás (Rio Aporé) e o entroncamento com a BR-497, em território sul-mato-grossense. Entretanto, nestes dois casos, nenhum centavo foi liberado até agora. Existe a promessa da presidente Dilma Roussef, de colocar as obras na BR-419 no PAC 3 (Programa de Aceleração do Crescimento), porém, esta nova etapa do programa ainda não foi anunciada. Em abril deste ano, Dilma afirmou que anunciaria as obras em agosto.

Lucia Morel

Os 337 km entre Campo Grande e Três Lagoas, percorridos pela rodovia BR-262, apresentam problemas de infraestrutura que são potenciais causadores de acidentes. São buracos na pista, elevações por asfalto desgastado, pavimento descascado, e a pior situação: acostamento esfarelado e, em alguns trechos, completamente sem pavimentação. Quem depende das estradas para trabalhar reclama bastante. Caminhoneiro há 10 anos, Rosalves Gomes dos Santos,57anos,lamenta o estado da rodovia federal. “Um amigo meu morreu por causa desse acostamento feio”, disse, contando que outro motorista parou no acostamento para trocar um pneu, mas, em decorrência das condições dessa área, um outro seguia por ele e acabou colhendo o colega de Rosalves.
Isso porque o acostamento é muito estreito, esburacado, e nem há as chamadas “áreas de descanso”. “Nunca teve acostamento que prestasse. Quando não é buraco, é a elevação do  meio-fio. Pra perder o controle do caminhão, é rapidinho”, reclama. Também caminhoneiro, Vicente César da Silva, 43 anos, está acostumado a passar pela 262, que corta Mato Grosso do Sul de leste a oeste. “Isso aí é terrível! Essa rodovia deveria ser duplicada; além disso, é mal sinalizada”, lamentou, lembrando-se de um colega morto ao se desviar de um buraco na pista. “Ele desviou e perdeu o controle. Bateu de frente com outro caminhão” .Desde que trabalha como motorista, ele afirma que a situação da rodovia é a mesma. “Eles fazem muito mal esse tapa-buraco. Deixam a pista ressaltada e, quando chove, esfarela tudo; o pior é que sempre foi assim”. A urgência da rodovia, para ele, mesmo com os inúmeros problemas, é o acostamento.

Fonte: Correio do Estado